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A figura aparentemente abstrata que domina esta área do Grafite da Ciência está na origem da formação de um Brasil moderno, no qual ciência era ‒ como, talvez, nunca mais tenha sido ‒ parte de um projeto de nação. Os dois ‘risquinhos’ vistos na imagem representam uma das descobertas mais importantes da física do século passado e, como consequência dela, foram fundadas, no Brasil, instituições de pesquisa e financiamento da ciência.
O ‘risquinho’ horizontal é a trajetória deixada, em uma placa fotográfica especial, pelo méson pi, responsável por manter prótons e nêutrons ‘colados’ no núcleo atômico. Essa partícula foi prevista teoricamente, em 1935, pelo físico japonês Hideki Yukawa (1907-1981). Nos 10 anos seguintes, a busca a esse então misterioso fragmento de matéria reuniu as mentes mais brilhantes da física à época. O ‘risquinho’ vertical é a partícula na qual o méson pi ‘se transforma’ (decai): o múon, ‘primo’ mais pesado do elétron.
Apesar do esforço de vários grupos no mundo, a descoberta do méson pi - hoje, píon - foi obtida, em 1947, pela equipe do Laboratório H. H. Wills, da Universidade de Bristol (Reino Unido), com participação decisiva do físico brasileiro César Lattes (1924-2005). O artigo com esse resultado está na prestigiosa revista Nature de 24 de maio daquele ano.
No ano seguinte, Lattes, em coautoria com o físico norte-americano Eugene Gardner (1913-1950), detectou o méson pi no sincrocíclotron de 184 polegadas na Universidade da Califórnia em Berkeley (EUA). Foi uma descoberta importante não só do ponto de vista científico, mas também político, pelo fato de, segundo historiadores da ciência, ter lançado um novo modo de fazer física: aceleradores de partículas.
No Brasil, uma campanha ‒ reunindo cientistas, militares, artistas, jornalistas, empresários, banqueiros etc. ‒ promoveu publicamente os feitos de Lattes, que, naquele momento, se tornaria ‘nosso herói’ da Era Nuclear ‒ uma transformação geopolítica importante em termos mundiais e da qual o Brasil passava a ser parte. Essa campanha está na origem da fundação do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF), no Rio de Janeiro (RJ), em 15 de janeiro de 1949, bem como do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), pedras fundamentais de toda a infraestrutura de administração e financiamento da pesquisa científica no Brasil.
Os feitos de Lattes foram importantes, sem dúvida. Modesto, no entanto, quando perguntado se faria tudo novamente, respondeu assim: “Fiz o possível. Fui arrastado pela história.” Lattes teve sete indicações para o Nobel de Física.
“Fiz o possível. Fui arrastado pela história.”